quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Não Permitiremos um Novo Japão ao Sul do Equador".

A frase é de Henry Kissinger, Secretário de Estado estadunidense ininterruptamente de 1953 a 1977, quando articulou e derrubou as principais democracias latino-americanas.

Kissinger se referia ao Japão anterior a II Guerra, da éra Meiji, nacionalista, que tornou o Japão uma potência.

Findo a II Guerra, o mundo foi dividido entre as potências vencedoras. Os EUA ficou com sua área de influência sobre as Américas, a Europa com a África, a então URSS com uma área que compreendia o leste europeu passando por parte do médio oriente até o índico.

Com essa divisão do mundo, essas potências pactuaram não intervir nas respectivas áreas de influência das outras. Observe que após a II Guerra a URSS não fomentou nenhum levante comunista nas américas. A revolução cubana foi um movimento interno, sem qualquer auxílio externo. Bem como a instauração dos Estados comunistas de Mozambique e Angola, em que não houve intervenção soviética em suas respectivas formações. Assim como os EUA não interviram no Afeganistão por estar sobre a área de influência soviética (só o fazendo, após a "crise dos mísseis" com Cuba, ainda sim de forma indireta). A guerra na península coreana foi um prolongamento da II Guerra mundial por esta na zona limítrofe assim como o Vietnam.

De modo que a alegada “ameaça comunista” quando do Golpe de 64 é uma falácia. Ainda sobre Cuba, o Presidente estadunidense John Kennedy assumiu publicamente terem sido eles que empurraram Cuba para a URSS, quando a revolução cubana ainda não era comunista, uma crítica a condução da política externa conduzida por Kissinger. A intransigência ianque levou a radicalização do movimento dos cubanos. A “crise dos mísseis” foi algo tão sério, justamente porque quebrava esse pacto de não intervenção nas áreas de influência dos outros. E o caso se resolveu pelo restabelecimento do status quo anterior.
John Kennedy e João Goulart
 



A política externa de John Kennedy primava pelo princípio da não intervenção. Essa postura contrariava a orientação traçada por Kissinger, que já tinha nas suas costas derrubado Vargas e Perón. Kennedy tornou-se uma pedra no sapato na política externa estadunidense contrariando o cartel armamentista com as promessas de por fim a guerra do Vietnam e frustrando os planos de conquistar o Brasil via um governo marionete subalterno aos interesses ianques.

O desdobramento disso, todos conhecemos, Kennedy foi assassinado e Goulart deposto.

Voltemos ainda no tempo.... apesar do trágico desfecho (especialmente para nós brasileiros), Getúlio frustrou os planos estadunidenses de dominar o Brasil durante os 10 anos que se seguiram de 54 a 64.

A deposição de Vargas em 45, a tentativa de impedir sua posse em 51, a “novembrada” em 55 contra Jucelino, a tentativa de golpe em 62, para em fim a deposição de Goulart em 64. Revela a ação sistemática de um mesmo grupo na consecução da tomada do País, todas elas orquestradas e subvencionadas pelos EUA.

Castelo Branco, o principal artífice do golpe, era amigo pessoal de Vernon Valters, adido militar estadunidense no Brasil, com o qual cooperou na operação Brother Sam, na articulação do golpe chegando a convencionar a:
 “entrega clandestina de armas de origem não-americana(para impedir identificação e evitar acusações de intervencionismo) a serem repassada aos cúmplices de Castelo Branco em São Paulo. Bem como “a operação de um porta-aviões, um porta helicópteros, um posto de comando aerotransportado, seis contratorpedeiros (dois equipados com mísseis teleguiados), carregados com 100 toneladas de armas (inclusive um gás lacrimogêneo para controle de multidões, chamado CS agent) e quatro navios-petroleiros que traziam combustível para eventual boicote das forças legalistas”. 

Os arquivos de Estado dos EUA demonstram em detalhes a intervenção dos EUA no Brasil via aliciamento da cúpula das forças armadas.

Em um 1º de abril, nosso País voltou ao status de colônia, agora não mais de Portugal, mas, dos EUA. E as palvras de Kissinger revelam com clareza que o golpe de 64, não se destinava ao combate ao comunismo, mas sim a de castrar as esperanças nacionalistas brasileiras de uma Pátria próspera e desenvolvida.


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