terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quando os Chacais Brigam - Castelo Branco assassinado.

No dia 18 de julho de 1967 o bimotor que levava o ex-presidente militar Castello Branco(havia deixado o poder a 4 meses)de Quixadá para Fortaleza colidiu em pleno vô-o com um TF-33 da FAB, vitimando juntamente com Castello outras 4 pessoas que viajavam com ele, tendo sobrevivido apenas uma única pessoa: Emílio Celso Chagas, co-piloto.

O caso foi tratado oficialmente pelo Comando da Aeronáutica como um acidente. Desde então, nenhum documento ou relatório oficial sobre as causas do acidente foi revelado. O pesquisador, cearense, Pedro Paulo Menezes contesta a versão da Aeronáutica, acreditando ter se tratado de um "ato premeditado, pela disputa de poder": "Levei muito tempo para obter os documentos que me permitem acusar que a versão oficial da morte do Marechal não é verdadeira".

De posse da carta de tráfego dos aeródromos Pinto Martins e Alto da Balança e contactado pessoas que participaram do episódio, inclusive o co-piloto sobrevivente, Pedro Paulo Menezes lançou em 2003 o livro "J´Accuse - O clamor de uma verdade".

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos - CENIPA, afirma na certidão em 2004 que "o acidente decorreu de uma colisão no ar, nas proximidades do tráfego de aeronáves de caça para o aeródromo de Fortaleza. Não houve trasngressão das regras de tráfego aéreo vigentes por parte de nehuma das aeronáves". Esse foi o único documento oficial emitido em todos esses anos, graças à interferência do Procurador da República, Alessander Sales, no caso.

Meneses contesta a versão do CENIPA, dizendo que os jatos descumpriram a carta de tráfego aéreo provocando o acidente. Se os jatos tivessem seguido a carta de tráfego deveriam estar em um raio máximo de 4 km da pista de pouso, e não a 10 km dessa área. Ainda, segundo a carta de tráfego deveriam ter seguido para Barra do Ceará(litoral oeste de Fortaleza) e não para seguido para o sul da cidade.

A torre de comando sabia o tempo todo da posição do bimotor e do jato. "quando eles estavam a dez minutos do aeroporto, comunicaram-se com a torre avisando sua posição e solicitando permissão para procedimento de pouso. A autorização foi concedida, mas quando eles estavam se aproximando da área do aeródromo, houve a colisão". O pesquisador indaga, "se a torre sabia o tempo todo a posição dos aviões, por que não avisou?".

Na colisão o bimotor(PP-ETT) perdeu o leme de direção e o conjunto de estabilizador vertical, entrando em parafuso chato para esquerda - horizontal - até atingir o solo. O jato colidiu na peça mais frágil do bimotor. "O toque foi na ponta da calda, que era a parte mais frágil do avião, o que garantiria que ele fosse abatido. Isso tudo sem oferecer risco para o piloto militar(do jato).

Após a colisão e queda do bimotor, sobreviveram apenas 2 pessoas, o piloto e o co-piloto, ambos levados ainda vivos ao hospital da base aérea, segundo a versão oficial, tendo o piloto falecido logo em seguida.

No socorro, não foi utilizado a equipe médica da Base Aérea, o local da queda não foi preservado. "A Base Aérea permitiu que o avião fosse saqueado e determinou que fosse retalhado a machadadas. A área do acidente foi destruída. Por que não seguiram os procedimentos corretos? Porque tinham que destruir todas as provas?".

Essas revelações jogam mais uma luz sobre as guerras de facções dentro regime militar. Castello Branco pertencia a uma facção mais liberal que pretendia entregar o governo aos civis garantindo uma eventual eleição de Carlos Lacerda. Coincidentemente também morto.

Havia um 2ª facção dita Linha Dura que embora também liberal tinha planos de se manter no poder e não concordava em entregar o poder.

Havia ainda um terceira facção do baixo oficialato encabeçada pelo General Albuquerque Lima, ainda que conservador extremamente nacionalista e anti-americana e com forte cunho social.

A Operação Condor já de ampla repercussão aponta a Linha Dura como mentora dos assassinatos de lideranças civis, é bastante provável ter sido a responsável também pela eliminação do ex-presidente Castelo Branco. Resta saber se essa terceira facção teve também participação.

E pode-se concluir que essa guerra interna tenha sido um dos motores determinantes para o processo de redemocratização pondo um termo dentro das forças armadas que ameaçavam se degladiar.


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Um comentário:

  1. Castello Branco era um ditador, como todos os outros presidentes militares. Na minha opinião ele e seus colegas já foram tarde. Mas o fato é que a Ditadura de 64 endureceu muito depois dele. Além dos "comunistas", qualquer político ou pessoa comum que tivesse qualquer discordância com o Governo era um alvo. Carlos Lacerda era um canalha, mas pelo menos um civil que seria eventualmente sucedido por algo menos pior. A linha dura venceu. Não acho a hipótese de atentado absurda. E só lembrar do "suicídio" de Getúlio Vargas ou do "acidente" de JK.

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